O lobo guará habita os pampas

  

 

O Lobo guará sobrevive nos pampas gaúchos!

Por Leandro Pinto.

 

   Perseverança faz o biólogo Leandro Pinto reencontrar animal que não era avistado há 30 anos no Rio Grande do Sul...

 

Foi preciso agüentar muita gozação nas rodas de bar até poder provar o que dizia.

  Era assim toda a vez que Leandro Pinto se reunia com os amigos: relatos de caboclos que acreditavam ter visto o lobo guará no interior do Rio Grande do Sul não convenciam os colegas de profissão.

   Para o biólogo, um dilema: pelos hábitos e pela localização que lhe contavam, acreditava que podia, sim, acreditar no ressurgimento do bicho.

Mas faltavam as provas.

E, aos poucos, elas chegaram. Primeiro, as fezes, fotografadas numa trilha no interior de São Gabriel (cidade do Sudoeste do Rio Grande do Sul, a 320 km de Porto Alegre).

   Examinando o material, conseguiu identificar os pêlos de um ratão do banhado.

   Apesar de onívoro e de se alimentar de frutos, a literatura afirma que o lobo-guará também se alimenta de pequenos vertebrados - e Leandro sabia disso.

Mas, para não se deixar levar, procurou pensar que elas poderiam ser de outros canídeos; como cachorros domésticos asselvajados.

   Acontece que o local onde estava era cheio de tabuleiros ermos - bem ao gosto do lobo-guará, que adora correr pela grama alta.

   No dia seguinte, Leandro seguiu os rastros, e alterou a posição de duas das nove armadilhas fotográficas que havia espalhado na região.

   Mais dois dias, e a prova que faltava: seis fotos.

   Nítidas, de pelo menos dois indivíduos.

   Cabeça pequena em relação ao corpo, orelhas pontudas, focinho longo. 

   Numa das fotos, um deles olhava pra câmera, como se quisesse mostrar aos incrédulos que não está extinto.

  "Nem te conto o pulo que dei quando vi as fotos", diz o biólogo.

   As imagens não permitem identificar idade ou sexo dos animais, mas eles parecem mais saudáveis do que os avistados por Leandro no Mato Grosso.

   As fotos comprovam que o lobo guará, cujas últimas notícias eram da década de 70, ainda existe no Estado.

   Vítima da ira dos fazendeiros, por atacar novilhos, da caça para fazer casacos e até de crendices – um olho do lobo guará era considerado amuleto de sorte – ele é considerado criticamente em perigo Livro das Espécies de Fauna Ameaçadas de Extinção do Rio Grande do Sul.

   No Brasil é encontrado nos biomas Pantanal, Campos Gerais e no Cerrado, além, é claro, dos Campos Sulinos.        Estudiosos dizem que essa distribuição se deve, provavelmente, à transformação da Mata Atlântica em área para pastagens, mono e silviculturas: ele vive onde encontra comida.

   Quando adulto pesa de 20 a 30 quilos, e mede entre 95 a 115 cm, além da cauda. 

   Reencontrar o lobo-guará é uma grande descoberta.

   Afinal, é o maior canídeo da América do Sul, já extinto em Santa Catarina e no Uruguai.

   Leandro prefere manter segredo sobre a localização exata do achado, e faz planos de montar um projeto de pesquisa.

  Quer saber como eles se comportam por aqui, o que comem, se se deslocam pelos centros urbanos ou usam os corredores de mata.

   Mais ainda, quer coletar amostras de sangue para fazer a comparação genética com os exemplares encontrados no Mato Grosso.

   Leandro tem sorte – fruto da persistência, quando se trata de achar espécies desaparecidas pelo Rio Grande.

   Em meados de 90 avistou um veado-galheiro, também muito ameaçado, na APA do Ibirapuitã, entre Dom Pedrito e Alegrete.

  Quando administrava o Banhado dos Pacheco, em Viamão, avistou e fotografou, por duas vezes, o cervo do pantanal.

   Também já fotografou um espécime de gato-palheiro, e um híbrido entre gato-do-mato-grande e gato-do-mato-pequeno, recentemente publicado no periódico norte-americano Molecular Ecology.

  O biólogo espera que a comprovação da existência do lobo guará em solo gaúcho desencadeie esforços do governo para preservar principalmente o Pampa, área de aparecimento da espécie no Estado.

   A descoberta está feita, e já pode ser saboreada na mesa de bar:

  “Brinquei com um colega dizendo que deu um trabalhão para pintar o cachorro do fazendeiro e espichar suas orelhas’ diz Leandro.
 

 

Fonte:https://www.ecoagencia.com.br              Pesquisa: Pedro H. de O. Hoffmann.